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  • Foto do escritorRenan Fernandes

UMA LUTA PELO ACESSO À DIRETOS BÁSICOS

A gente tá cansado de ver a ausência de serviços públicos nas periferias do Brasil. Na RMC (Região Metropolitana de Campinas) são incontáveis quebradas que sofrem com a falta ou dificuldade pra ter acesso a saneamento básico e educação. Por outro lado, algumas outras favelas conquistaram o acesso depois de muita luta. Neste artigo trago uma reflexão sobre os caminhos adotados pelo Acampamento Marielle Vive, da luta organizada pelo MST em Valinhos, pra ter acesso à água.

O acampamento nasceu há três anos quando centenas de famílias ocuparam uma terra abandonada por empresários. Hoje vivem cerca de 700 famílias que recebem água do caminhão pipa, dispõe de um busão pro transporte escolar e um posto de saúde formado por voluntários para atendimentos a cada 15 dias.


No dia em que fui conhecer o local pra escrever este artigo o caminhão pipa entregava 100 litros por família, mas em dias normais são 50, conforme me disse o responsável pela infraestrutura do acampamento que nem consegui anotar o nome devido a correria pra abastecer as famílias. Ele disse “você imagina uma família com quatro, cinco pessoas dentro de casa. Tem que tomar banho, lavar roupa, fazer comida. Nessa pandemia? O negócio é terrível. Eu vejo que pra mim que moro sozinho é o mínimo”.




“Eu já fiquei várias vezes sem fazer muitas coisas por causa da falta de água”, diz a Jucicleide, que é faxineira, mãe solteira de seis filhos e um gato e participante dos protestos realizados pelo acampamento pelo acesso à água. Ela continua dizendo que “é muito triste ficar sem água. Fica sem tomar banho, lavar louça. As vezes (quando faltava) pegava da chuva”.


Antes do caminhão pipa o acampamento não tinha nenhum acesso à água e a única mina capaz de abastecer o local está contaminada. Por isso, diante a necessidade, mas sem acesso a água as famílias recorreram para os manifestos pacíficos como mecanismo fundamental pra garantir um direito básico. Além disso, contaram com apoio de lideranças políticas da região, DP (Defensoria Pública) e intervenções do MP (Ministério Público).


“A gente sempre reivindicava junto ao DAEV (Departamento de Água e Esgoto de Valinhos) e o DAEVE sempre rejeitou nosso pedido. Graças as manifestações, um apoio, principalmente do MST, a gente começou a ter um pouco de água potável”, afirma Wilson Lopes que é um dos Coordenadores do acampamento.


Ele conta que “no dia 18 de julho de 2019 um amigo foi morto atropelado durante uma manifestação pacífica por água”. O amigo, segundo Lopes, era seu Luís Ferreira, 72 anos. Ele foi atropelado por uma caminhonete Mitsubishi L200 depois de ter salvo uma companheira do atropelamento.


O assunto teve repercussão nacional. O MST continuou pressionando e o MP e a DP interviram por meio de ações de mediação de conflitos pra garantir o abastecimento pelo caminhão pipa. Hoje, depois de muita luta, como disse antes, as famílias recebem uma média de 50 litros de água por dia.


É evidente que a morte deixa uma imensa tristeza no coração dos amigos e familiares. Não tinha que ser assim, mas foi por causa da negligência do poder público para conceder água pra população. Nestes casos em que a população toma a iniciativa muitas vezes o pobre que é mais vulnerável sai ferido pelo uso da força excessiva, seja do Estado ou de quem tem um poder aquisitivo maior.


Contudo, a Luta organizada seguiu ativa e necessária para o acesso à escola e os postos de saúde, evidenciando novamente a importância de alinhamento com nossos semelhantes em ideias e cultura para na ausência do cumprimento da constituição, ao invés de manter um afastamento das instituições e organizações, utilizar-se delas como caminho pra acessar direitos básicos e universais.






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